Quintal dos Poetas
Oficina Literária

                                                                      editora independente
 

 

Movimento Editorial

Em 1808 d. João VI transferiu a Corte Portuguesa para o Rio de Janeiro, dando início à formação da nação brasileira. Um dos mais notáveis aspectos dessa aventura foi o translado dos sessenta mil volumes da Livraria Real e a importação de uma prensa que permitiu a tardia instalação da primeira editora brasileira. Deu-se então o começo da história do livro no Brasil. De lá para cá muita coisa aconteceu. Surgiu uma literatura verdadeiramente brasileira e um empreendedorismo editorial satisfatoriamente sintonizado com ela, produzindo e colocando livros brasileiros nas estantes dos brasileiros. Houve enfim, durante quase dois séculos, uma cadeia produtiva agregando valores à cultura nacional. Foi assim, pelo menos até o terceiro quarto do século XX. Mas, a partir daí, seguindo uma tendência mundial, o movimento começou a mudar. Surgiu a literatura desnacionalizada da produção em série e texto fácil em linguagem jornalística, a indústria do best seller, o mercado das megastores e o chamado “livro eletrônico”. A literatura brasileira inegavelmente empobreceu. Poucos são os autores atuais capazes de alinhar mérito e sucesso. O velho binômio que tornou tão rica a cultura dos séculos XIX e XX se dicotomizou radicalmente. Não sei exatamente porquê. A literatura brasileira empobreceu porque as editoras não ligam para ela, ou as editoras não ligam para ela porque ela empobreceu? Ou será tudo fruto do enorme vazio cultural que tomou conta do mundo nesse medíocre início de século XXI?

 

Um levantamento, por amostragem, feito no inventário dos livros de ficção mais vendidos de revista Veja no primeiro decêndio do novo século, mostra o tamanho da pequenez da literatura nacional no movimento editorial brasileiro nesse início de era. Os números mostram que de 2001 a 2010, apenas 21% dos livros mais vendidos eram de autores nacionais.

Um levantamento, também por amostragem, feito no catálogo da prestigiada editora Cia das Letras, no segundo semestre de 2014, mostra uma situação semelhante, ainda que um pouco atenuada. Entre os livros de ficção disponibilizados pela editora, no período, 36% eram de autores nacionais.

Em 2014 a situação da produção literária nacional, no contexto da nossa indústria editorial  de livros de ficção,  piorou consideravelmente. Não apareceu um único autor nacional na lista dos mais vendidos do ano (revista Veja). Veja abaixo:

1º) A culpa é das estrelas                                   6º) O pequeno príncipe
      John Green (USA)                                                 Antoine de Saint-Exupéry (FRANÇA)
      Intrínseca                                                              Agir

2º) Se eu ficar                                                         7º) Divergente
       Gayle Forman (USA)                                             Veronica Roth (USA)
       Novo Conceito                                                      Rocco

3º) Quem é você, Alasca?                                      8º) O sangue do Olimpo
       John Green (USA)                                                   Rick Riordan (USA)
       Intrínseca                                                                Intrínseca

4º) Cidade de papel                                                9º) Convergente
       John Green (USA)                                                    Veronica Roth (USA)
       Intrínseca                                                                 Rocco

5º A menina que roubava livro                            10º) O teorema Katherine
      Markus Zusak (AUSTRÁLIA)                                     John Green (USA)
       Intrínseca                                                                  Intrínseca

A fórmula do sucesso editorial em nosso país continua inalterada. Marca o triunfo da literatura americana de latinha no Brasil, quero dizer, aquela literatura apátrida, suficientemente medíocre para facilitar a tradução em qualquer língua, sensibilizar os sentimentos rasos  e fazer sucesso em qualquer lugar. E o ápice arrazador da desconstrução cultural ao modo capitalista.